sexta-feira, 27 de junho de 2014

A Arte do Coração na Manutenção da Harmonia na Vida dos Sábios Chineses: uma Estratégia do tao para o Viver Contemporâneo


Prof. Dr. Orley Dulcetti Junior[1]

A maneira de viver e de pensar, dos sábios da antiga China é sui generis, que difere do modo Ocidental de pensamento linear, padronizado e universalista em que se vive a vida globalizada contemporânea. Assim como, também, ocorre com a escrita chinesa, não tem nada em comum com o idioma europeu.

Muitas vezes vive-se pensando no que se passou, fica-se angustiado, ou, vive-se o futuro, que ainda não chegou, então, sente-se ansiedade pela antecipação dos acontecimentos, e assim, o presente fica excluído.

A sociedade impõe valores impeditivos para mudar-se de status social, dificuldades da vida que se quer sair delas, mas não é possível, pois são imposições e pressões sociais, como, dificuldade financeira, social, no relacionamento, distúrbio emocional. Tudo isso pode deixar as pessoas insatisfeitas, sentirem-se incapazes, inseguras, com medo, sem ter prazer na vida, impossibilitam de conseguir alcançar o sucesso. O modo de vida e de pensar das pessoas ocidentais, também, do brasileiro (a) não tem possibilitado de se chegar em soluções plausíveis, de ordem mental, física, socioeconômica e nas relações pessoais.

Há resposta eficiente, soluções eficazes fora do Brasil, que o autor traz da sabedoria antiga chinesa, da inteligência estratégica dos pensadores da China Antiga. São aspectos que pretendo mostrar de inovador com as eficiências resolutivas, que permitem explorar novas possibilidades de se viabilizar as relações justas, o equilíbrio interior, o apaziguamento do coração, a obtenção do sucesso estratégico e a harmonia na vida por meio da arte do coração, a arte de nutrir e de manter a vida com os sopros () equilibrados.

 A sabedoria chinesa consiste num produto de construção singular da fecundidade e da exterioridade chinesa antiga em relação ao Ocidente e ao Brasil. Aqui se têm fecundidade própria. Mas ainda, é um tema a ser descoberto e explorado. O saber chinês clássico, eu os trouxe já pesquisado, explorado, vivenciado. Assim, ele chega até os dias atuais, principalmente, pelos textos clássicos chineses deixados para a posteridade pelos intelectuais da antiguidade chinesa, como nos livros clássicos atribuídos ao Kong zi, ao Laozi, ao Zhuang zi, ao Huainan zi, entre outros, que são traduzidos de maneiras divergentes e mal compreendidos. Para isso deve-se levar em conta a cultura da época e se traduzir de modo contextualizado, sem a influência universalista e ocidentalizada que procuro realizar e por em evidência coerente.

Os sábios chineses nos deixaram o legado da “arte do viver”, a “arte do coração” (xīnshù心術), uma estratégica do viver do tao, conforme pode ser traduzido nos escritos de Zhuāng zǐ (莊子). Explica-se do seguinte modo, que o corpo humano possui um centro único de ordem intrínseca organizador da condução dos ventos-sopros (não soprados por ninguém) promovedor da vida neste corpo particular. Pode ser chamado de o depositário central e dirigente da pessoa, como o centro da vida, que se encontra alojado no meio do peito do homem. A arte do coração chinesa antiga é um ensinamento estratégico do período clássico da China que recomenda o esvaziamento do coração, com a disponibilidade interior, para não se fixar em nehuma ideia, com ausência de desejos,  paixões,até seobter um agir justo. Assim, torna-se capaz de atingir a sabedoria, que é a arte de nutrir a vida, estratégia para mantê-la equilibrada na totalidade corporal constituída por ventos-sopros (qì), com possibilidades de realizações justas, completas, eficazes na serenidade.

Segundo os sábios do pensamento e da medicina chinesa antiga, herdeiros dos ensinamentos de sabedoria do Imperador Amarelo, considerado o ancestral dos taoistas, o centro da vida é o coração que funciona como a referência, que serviu para se guiar a vida dos sábios chineses antigos e serve ainda hoje para nos guiar.

 Os ensinamentos antigos dos sábios da China foram transmitidos pelos livros, que contém estratégias de vida do tao para todos os viventes, inclusive podem ser proveitosos para todos no mundo contemporâneo, numa família, na empresa o empresário, na hierarquia com os seus funcionários, na escola, instituições, nas Ongs, para se entender melhor um ao outro, valorizando-se a alteridade (o outro) deixando-se a individualidade para trás, levando-se em conta o outro e assim se conseguir viver em harmonia, em conformidade com os movimentos espontâneos dos sopros ou (), como a harmônica celeste dos movimentos dos astros no céu (noção de regulação) e da música pentatônica chinesa antiga. 

Na concepção dos sábios chineses a harmonia é uma condição obtida num momento propício, que se permitiu ocorrer por meio da espontaneidade, o tao (a via, o percurso, o funcionamento das coisas) pela “escuta silenciosa do coração”, segundo Zhuang zi. Não há uma preocupação no sentido de se atingir a felicidade. Mas, sim, de se chegar até a harmonia, ao equilíbrio interior do , da pessoa consigo, da pessoa com os outros e com o mundo exterior, em geral.

Há uma variedade de métodos de se obter o tao (dào), na arte de viver e com estratéga nas formas de atitudes de se encarar a vida a partir das relações mútuas, como a ginástica gestual do (dǎoyǐn導引), o (tàijíquán太極拳), (qìgōng 氣功 maestria dos sopros), o fēngshuǐ (風水).

. Também, há acupuntura, os chás, a alimentação pelos sabores das cinco fases. Todos são considerados caminhos (tao), forma de viver para se seguir espontaneamente o curso dos ritmos do dia e da noite, das estações do ano em conformidade com o coração de cada um.

Desse modo, rompe-se com o passado que ficou para trás, com o futuro que vem adiante, então, se deve ficar no momento oportuno, sem se fixar nele, porém aplicar estratégias a partir do não-agir (無為wúwéi), conduta taoista do agir sem interferir, agir no interno, espontâneo sintonizando-se com o centro da vida, o coração em conformidade com o mundo, o céu e da terra. Ao se considerar uma posição e a outra, um lado e o outro, mas não somente valorizando um lado, mas também o outro lado, nem ficar numa única posição. Deve-se verificar a outra posição a ser tomada na vida, ou a posição do outro, sendo assim, não se toma, um partido, mas tudo vai se fazendo num caminho de uni-totalidade, que resulta em se permitir que aconteça a condição propícia, no momento oportuno e dele se tirarem o melhor proveito disso.

Essa estratégia se baseia no pensamento dos sábios chineses do yīnyáng. Como no comentário do Clássico das Mudanças, o Yi Jing (一陰一陽之為道 pronúncia: yī yīn yī yáng zhī wéi dào), na tradução: “Um yīn, um yáng, eis o dào (tao)”. Trata-se de uma fórmula taoista para se viver em harmonia.

Segue o movimento de pensamento circular ou não linear, diferente do pensamento ocidental linear, o circular chinês dá a solução, a estratégia do pensamento é de totalidade, que não se vai direto ao assunto, dão-se voltas, em volta do assunto, do afazer, do ensinamento, do aprendizado, ou da negociação, até se atingir a eficiência, que difere do pensamento linear do mundo contemporâneo Ocidental e brasileiro que é relativo, dual, que aponta diretamente para o objeto, com uma finalidade. O pensamento circular é o que forma a estrutura colocando em funcionalidade, o tao, na vida harmônica, sem finalidade, nem objeto.

Por isso, o papel do tradutor dos textos clássicos chineses dos sábios deve ser contextual e relevante. Considero o tradutor como sendo o condutor da ética que propicia o diálogo entre um e o outro. Isto é um pensamento chinês de inclusão, não há exclusão, como no pensar ocidental atual. Tal estratégia chinesa de pensar agindo sem interferir obtém sucesso.

Senso assim, o tradutor do chinês clássico para o português brasileiro é o responsável para que a comunicação ocorra sem defeito, sem borragem, sem mística, nem religião judaico-cristã, ou hegemonia biomédica, sem anacronismos (significa dar valores atuais de sua cultura Ocidental, para o antigo, isso é, à outra cultura, a chinesa. As duas culturas não têm nada em comum). Porém, ambas as civilizações possuem sabedoria, que atravessam os horizontes, sabedoria de todas as nações. Aqui, opta-se pela sabedoria chinesa clássica, com os seus implícitos culturais (pensamento ativo, passivo, não dual, inclusivo, com estratégias do agir sem interferir). Os sábios estrategistas de o melhor viver e na medida em que, se percorriam a vida permitiam o surgimento da condição oportuna e dela, então, se tiravam o máximo de proveito, a isso eles denominavam de eficiência (). A estratégia está na eficiência, no trânsito, na passagem e não no efeito. O resultado do sucesso estratégico que serviu para os antigos chineses e nos serve ainda hoje. A China Antiga é uma civilização de uma cultura dos textos, que conserva o patrimônio da fecundidade cultural, desse outro longínquo antigo, de modo singular numa cultura milenar que está disponível a todos, no mundo atual.



[1] O Prof.Dr. Orley Dulcetti Junior é brasileiro, empresário, sinólogo, cientista das religiões (PhD). Ele é uma personalidade internacional. Faz conferências e comunicações no exterior e no Brasil. Empresário, diretor do IBRAHO. Membro da Association Française d’Etudes Chinoises, Ele traduz textos de sabedoria chineses clássicos e de medicina da China antiga. Também, ele é um estudioso de trocas interculturais, educador e praticante há 30 anos de medicina chinesa e acupuntura Além disso, ensina e faz consultorias, aconselhamentos às pessoas, empresários, clínicos, famílias, instituições de ensino para poder se obter o melhor rendimento, melhorias no interior e exterior das pessoas, bem como, nas relações pessoais, na produtividade e obtenção de sucesso.
 

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