A
literatura chinesa (wen文)
distintamente das outras, durante uma longa maturação permanece sem gêneros e
de início desenvolve-se na união de escrita e ritual de previsão. Além disso,
referência aos mitos, escritos tardiamente são escassos e fragmentados. Os
primeiros textos datam do período da dinastia Shang Yin, entre os séculos XIII
e XIV a. C., que foram escritos sobre peças e materiais duros feitos de pedras
e exoesqueleto do ventre de tartaruga, nas quais se gravavam registros nos
ossos de ovinos, bovinos, e exoesqueleto da tartaruga seguindo técnicas e artes
dos fang shi 方士, os mestres das artes, que mais tarde
tornaram-se Shi 士 .
Fig 1 Fonte: Vandermeersh (1984)
Depois surgem os materiais para
escrituras chinesas os 策 Ce , que são lascas de bambu, que servem como material na
escrita, que evoluem literalmente, dando lugar ao papirus e ao papel de arroz. (ALLETON,
2009).
Fig 2: Jing nos Ossos -femur de bovino
A noção de literatura na China evoca
o termo em chinês wen文 que no Dicionário Ricci (1990) designa
as linhas, brilho da seda e vestimentas bordadas, os desenhos, o sinal gráfico
da escrita chinesa chamado de sinograma ou caractere chinês antigo (wen zi文字), a civilização
(wen hua) e nome do rei (wen wang) da dinastia zhou, sabedoria e cultura, os
textos e as composições literárias, em geral e literatura clássica (wen yan wen文言文).
O wen, a escritura chinesa, como também, wen yan wen , geralmente traduzido como
língua escrita chinesa construído pelos Fang Shi, como um sistema linguístico
distinto da fala chinesa, diversamente de outras línguas e civilizações, não
evoluiu para uma escrita alfabética e permite o surgimento através do procedimento
escritural os textos de racionalidade de procedimentos ritualísticos de
previsões e não de advinhação. São os primeiros a surgirem, também, pelos Fang
Shi, nas coleções de quelônios grafados os diagramas e a escrita, após jogo de
combinações numéricas feitos com a aquiléia- millefollium, até se chegar a
constituir um texto formal.
Fig3.:Clássico das Odes (Shi JIng) Fonte: BNF
A
dimensão cosmológica de wen permite a
correlação do homem, o wen humano com
o céu-terra. O termo wen tem origem
nos caracteres chineses arcaicos dos números seis e cinco. No Clássico das Transformações, ou em
chinês I jing se lê: “O céu é cinco e
a terra é seis (tian wu di liu). ”
De maneira espontânea há a relação do
homem com o céu terra que se entende através da noção wen. O céu como malha ou rede (mai)
e a terra como trama, assim, o wen os
relaciona. Desse modo, a obra literária está conjugada e integrada a totalidade
espontânea (tao道 e homófono
tao導) ao céu-terra. Por isso, a expressão literária
ou wen é a manifestação da via (tao道) que gera todas as coisas e manifesta o próprio tao como wen. “O wen é a via”. (tao zhi wen ye道之文也).
Os
sinais lingüísticos chineses, o wen possue
noção cosmológica com origem no tao,
como processo de continuidade totalizante e com eficácia no funcionamento. São
os escritos feitos através de sinais ou traços significantes incitados na previsão
dos rituais escritos e compostos pela lingüística, sem inspiração pelo verbo da
Criação. Mas, pelo sopros ou ventos (qì)
que animam no sentido de movimentar e dar vida (sheng) e pelas “linhas internas
que atravessam todas as coisas” ou ordem interna (li) da cosmologia, com seus eixos principais, como o vazio e pleno,
yinyang e a tríade céu homem terra em conjunção compõem
o ritmo dos sopros (qi yun) que anima
as frases na escrita chinesa.
Ainda, nessa mesma perspectiva, a literária
da China Antiga que foi gradualmente desenvolvida pelos mestres das artes (fang shi) com o racionalismo dos
procedimentos ou ordenanças, durante a dinastia dos Zhou seguiu-se pelos mestres
(shi) escritores chineses e
compiladores dos textos chineses, que descreviam cerimoniais ritualizados,
cânticos, disposições e as ordenanças dos Soberanos. Esses documentos foram
objetos de codificação, que ao se tornarem oficiais para regrar a vida passam a
ser denominados de Jing經ou Clássicos, primeiramente, por
iniciativa do confucianismo, corrente de pensamento de sabedoria chinesa (ru jia儒家) iniciada por Confúcio durante o
Período Adinástico Primavera e Outono que se estendeu até final do Período dos
Reinos Combatentes. São resultados desses remanejamentos e códigos com vistas a
oficialização de cunho moral e político.
Fig 5. Laozi Dao De Jing compilação de Wang Bi pincel sob Papel
A China pôde perpetuar sua tradição oral
através dos escritos (wen yan wen) e assim o legado escrito
segue de modo continuado, cumulativo com as noções de wen, aí se inclui a noção de tao,
no sentido de transmissão da manutenção da tradição ancestral do wen transformada na tradição nocional do
jing. E, a partir dessa perspectiva
chinesa têm-se a transmissão-tradição (chuan传)
e os comentários (zhuan传) de um texto
considerado posteriormente como Clássico, com significado de texto como um
tecido, rede ou malha jing dian (經典). Mas, isso ocorre somente após o momento
em que esses textos se tornam objetos de comentários.
Fig. 6. Huang Di Nei Jing Ling Shu comentários e compilação de Wang Bing caligrafia sob Papel
Os jing
dian (經典) ou
simplesmente jing são conjuntos de
textos chineses considerados como clássicos (do latim: classicus), e com a
conversão idiomática religiosa e cultural dos jesuítas desde o século XVI,
foram traduzidos como se fossem Livros Sagrados, então, canônicos (do grego: kanonikós; do latim canònicus, da cànon, règola, no
sentido de Kanon, do grego: regras, leis, princípios) da tradição confuciana,
inicialmente, para posteriormente abranger também os textos do legismo e
taoísmo durante os reinos Combatentes, que recebem uma denominação geral, a
partir dos Qin, como clássicos chineses.
Os jing seguem a noção de wen
discutida acima. Embora, não sejam clássicos como dos gregos e dos latinos, nem
canônicos como as escrituras judaico-cristãs e pela dificuldade lingüística os
primeiros sinólogos cristãos adotaram a tradução para jing (經) como
sendo os textos Canônicos à imagem da Bíblia. Depois, outros sinólogos optam
pelo equivalente de clássico como a noção laicizada do termo latino.
Porém, na China os clássicos recebem
conotação diversa da sacralização textual ou literatura profana. De início os jing têm sentido de Grande Regra (Da Jing大經) ou Grande Constante associado à noção
do tao, a via constante.
São compostos os jing, de literatura coletiva os quais se consolidam ao longo dos
tempos e se transformam em textos no encaminhamento da sabedoria chinesa. O estatuto do clássico chinês confuciano de
normativa pedagógico-moral como um texto autêntico e oficial. O jing por excelência evoca o saber da
textura céu-terra e representa o universal transcrito através dos sinais gráficos
chineses e o humano perfaz essa união. Por isso, os “letrados chineses”, os
mestres ou shi (士) empregaram a imagem
(xiang象) da tecelagem para se designar o jing (經) como o fio da seda na cadeia de fios de
uma trama do tecido. Possui qualidade de totalidade como um Clássico de acordo
com a imagem Céu-Terra (xiang tian di)
no sentido de espelho sem imitação (mimesis)
como se fazia na Grécia. Assim, os jing ou
clássicos chineses de sabedoria permanecem
em concordância com a realidade na ordem do mundo e o homem nas suas relações
sociais une o interior na literalidade da via (tao).
Bibliografia
Jullien François. L'oeuvre et l'univers : imitation ou
déploiement (limites à une conception mimétique de la création littéraire dans
la tradition chinoise). In: Extrême-Orient,
Extrême-Occident, v.1, n°3, pp.
37-88, 1983.
_____. Ni écriture
sainte ni oeuvre classique : du statut du texte confucéen comme texte fondateur
vis-à-vis de la civilisation chinoise. In: Extrême-Orient,
Extrême-Occident., N°5, La canonisation du texte : aux origines d'une
tradition. pp. 75-127, 1984
VANDERMEERSH,Léon. Ecriture et littérature en Chine
Ecriture et littérature en Chine. In: Extrême-Orient, Extrême-Occident. N°8, pp.
53-66,1984.
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